The Departed: Entre Inimigos (2006)
a crítica
Quis o destino que a primeira grande produção hollywoodesca de Scorsese marcasse também a primeira colaboração entre o lendário cineasta e Jack Nicholson. Por outro lado esta é também mais uma participação de Leonardo DiCaprio (cada vez melhor actor) em filmes do realizador norte-americano. "The Departed", convém dizer, é uma adaptação de "Inflitrados" realizado a meias por Andrew Lau Wai-Keung e Alan Mak Siu-Fai em 2002 e que gerou à sua volta um certo culto. Porém "The Departed" é muito mais do que um remake, é mais um upgrade do original. Intensifica a actuação e performance dos seus intérpretes e adapta a história ao cenário americano bem melhor do que ao de Hong Kong. Para tal contribuiu a participação de Jack Nicholson no argumento, que preparou a história de um ponto de vista mais comercial do que à partida, segundo o próprio Scorsese, se pretendia. O resultado, esse, depende da perspectiva de cada um. Por um lado, esta história do gato e do rato nas teias do crime organizado está gasta e os diálogos valem pela vertente semi-cómica e ordinária que se camufla de genialidade. O final pretende chocar o mais incauto e destrói toda a lógica do filme construída até então. Por outro, "The Departed" carrega algumas das melhores sequências cinematográficas dos últimos anos. As conversas entre Di Caprio e Nicholson, Mark Wahlberg a um excelente nível (ainda que secundário), o êxtase do confronto final e as fantásticas cenas de acção que o filme possui. É precisamente esta dualidade que faz este filme ser tão delicioso. A sua antagónica relação amor/ódio suportada pelo conflito moral do adaptar o passado ao presente e carregá-lo de emoções fortes e sensibilidade só ao alcance dos predestinados. "The Departed" é o mais comercial filme de Scorsese até à data, mas será que isso condiciona a sua obra de forma considerável? Quando o próprio realizador admite que as cenas mais violentas foram cortadas para não ferir a susceptibilidade dos espectadores, isto pode ser tido como uma concessão, mas por outro beneficia o enredo mais profundo e humano do filme, invés de glorificar a violência gratuita onde este género facilmente pode cair.”
Paulo Figueiredo,
Cinema PTGate
Martin Scorsese refaz [INFILTRADOS] à luz da sua sensibilidade pessoal e cinéfila; que é como quem diz: o filme ganhou, não apenas mais uma versão, mas sobretudo uma nova dimensão formal, dramática e trágica, mantendo apenas pontos de contacto narrativos com o original.”
Tiago Pimentel,
Premiere